domingo, 31 de janeiro de 2010



"Agora é hora de uma digressão na qual descreveremos os sentimentos de nossos heróis."
(música)
"Arthur segue olhando os pés, mas sua mente está na boca de Odile e seus beijos românticos."
(música)
"Odile se pergunta se os garotos percebem seus seios movendo-se por baixo do suéter."
(música)
"Franz pensa em tudo e em nada. Ele se pergunta se o mundo está virando um sonho ou se o sonho está virando o mundo."
(música)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MEUS GOSTOS (alguns até um pouco...esquisitos)



gosto de cafuné ou carinho no pé
gosto de pisar nas linhas de uma calçada ou brincar de pular uma e alcançar a outra
gosto de cheiro de madeira e de queimado
de ver alguem falando no tel e imaginar o que a outra pessoa está falando
de estourar plastico-bolha
de enfiar a mão num saco de sementes
de espirrar
doces
cantar em grupo
rir até a barriga doer
ficar horas batendo papo no msn e baixando musicas
de olhar para pessoas e ver quem olha nos meus olhos quando passa por mim
fazer caretas
mexer no anel
de ver os outros rindo
de fazer cocegas em criança
de abraçar
olhar nos olhos
de me apaixonar
me olhar no espelho
pintar com o dedo
gosto de ficar mordendo a pelinha morta dos dedos da mão
de pegar no cotovelo dos outros
esfregar o pé num tapete bem peludão
tirar cola tenaz seca da mão
inventar palavras
ficar enrolando na cama depois de acordar
raios de sol entre as folhas das arvores
de dormir com o barulho do ventilador depois de um banho em dia quente
de falar ao mesmo tempo a mesma palavra que a pessoa falou
de deitar na grama
ficar no telefone até o assunto acabar
ouvir musica antes de durmir
gosto de trocar olhares daqueles que vc sabe o que a pessoa está pensando
de sussuros
de artista de rua
tomar café da manhã
filmes em dias de frio ou de chuva
gosto de ler
gosto do som do nome "Clarice Lispector"
criar poemas
ficar inspirada
escovar os dentes e beber agua depois
ver estrelas
passar o dedo no finalzinho da lata de leite de condensado e lambe-lo
de brincar com a voz
cantar "Como nossos pais" da Elis Regina bem alto
andar descalça
dormir depois do almoço
tomar banho de chuva
de falar nada com nada
viajar com os amigos
gosto de conhecer pessoas em lugares inusitados
tirar fotos
ver videos da minha infância
dormir escutando Marissa Nadler
expressar meus sentimentos
gosto de chorar muito até dar sono
gosto de sentimentalismo
de ver ou ouvir coisas antigas
de aplausos
.....

terça-feira, 26 de janeiro de 2010



Viver em sociedade é um desafio porque às vezes ficamos presos a determinadas normas que nos obrigam a seguir regras limitadoras do nosso ser ou do nosso não-ser...
Quero dizer com isso que nós temos, no mínimo, duas personalidades: a objetiva, que todos ao nosso redor conhece; e a subjetiva... Em alguns momentos, esta se mostra tão misteriosa que se perguntarmos - Quem somos? Não saberemos dizer ao certo!!!
Agora de uma coisa eu tenho certeza: sempre devemos ser autênticos, as pessoas precisam nos aceitar pelo que somos e não pelo que parecemos ser... Aqui reside o eterno conflito da aparência x essência. E você... O que pensa disso?


Que desafio, hein?
"... Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la..."

(Perto do Coração Selvagem - p.55)

Clarice Lispector

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O PRIMEIRO BEIJO

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)

Clarice Lispector

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O mEU melhor [Bianka]




Vivo num mundo onde tudo são contos de fada...

a vida é colorida e não existe mal nas pessoas,

existem apenas palavras verdadeiras, pessoas conscientes.

Vivo num mundo onde há gnomos e o ar que respiramos é inspirador e quente

Onde o amor existe e é grande e tudo o que queremos cai do céu.

É tão dificil pra mim quando vejo que estou enganada e que meu mundo não existe

E quando vejo que não existe, me torno mais fria como proteção, talvez proteção contra as pessoas ou contra mim mesma.

É tão dificil ser sensivel de olhos abertos

Meu coração muitas vezes se fecha com medo

E isso me deixa triste e desesperançosa.

De qualquer forma eu continuo preferindo o meu mundo.

Ele existe sim porque é dentro de mim, nos meus sonhos desde criança.

Não sou de muitas palavras e isso as vezes me incomoda porque acho que isso possa ser falta de esforço pro pensamento

Ou preferir mesmo escutar pra aprender.

Sou influenciavel.

Tique de mexer no anel do dedo direito.

Mania de pensar em uma coisa e fazer outra

Impulsiva,

ajo de acordo com meus sentimentos.

Meu coração me domina.

Às vezes não acredito no que meu coração diz,

tento contradize-lo.

Não sou rancorosa

Apegada ao calor humano.

Quando gosto de alguém de verdade, dou o melhor de mim mesma pelo carinho.

Às vezes penso mais no outro do que em mim mesma, mas penso sim em mim mesma.

Algumas vezes faço antes de pensar, o coração geralmente acerta mesmo...

Uma criança que não quer crescer mora dentro de mim

Que é tão alegre e não liga tanto para o que os outros pensam sobre o que ela faz

Mas às vezes do que ela faz com os outros.

Morre de medo de machucar as pessoas e quando o faz fica arrependida

E às vezes pensa que machucou, mas na verdade não.

O meu SER pode estar certo ou errado,

não importa...

continuarei sendo com o coração.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


TER OU NÃO TER NAMORADO

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira – d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

Artur da Távola